quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Comer em Nova York 100 anos atrás, como era isso?





Mapa de Nova York
 
 


Quem já teve a oportunidade de ir a Nova York, mal imagina; mas, se não puser os pés no museu de comida, não se dará conta da história por trás dessa metrópole.


Já se perguntou, por exemplo, o que precede a história da cidade quando associada ao velho jargão ‘grande maça’? Que uma das origens talvez venha a ser literal, com a Newtown Pippin - uma espécie de maçã com sabor cítrico -, exportada à toda a Europa com muito sucesso ao longo da história? Ou que este item à venda até hoje no mercado de hortifruti do Union Square (Manhattan) tenha sido cultivado por muitos horticulturistas, dentre eles, Thomas Jefferson?





Avenida Jamaica na porção norte, Brooklyn
 
 


Pois é, quando se trata desse dueto - comida e Nova York -, para entender suas nuances históricas, precisamos regressar ao ano de 1898, tempo em que suas áreas geográficas foram incorporadas, dando origem ao famoso ‘Big Apple’ como vemos nas grandes produções hollywoodianas. Mas quão importante é uma configuração geográfica?

Ora, basta observarmos que, antes dessa data, cada uma dessas regiões - Manhattan, Queens, Brooklyn... – tinha seus próprios governos e taxas. Não só isso, mas sua própria manifestação com o alimento; seja através da indústria, sabores, mercados ou relações entre comunidades, definindo, enfim, identidades singulares.






Avenida Nostrand, lado leste
 
 


Imobiliárias e outras fontes históricas citam fazendas com mais de 250 anos de existência, que proviam as comunidades com suas criações de gado, cavalos, grãos e tantos outros insumos. Enquanto isso, nas regiões mais urbanizadas, os habitantes compravam pão, leite, milho quente, torta, pescados e, sim, gelo. Todos eles vendidos em carrinhos (pushcarts) ou vagões puxados a cavalo. As crianças compravam bolas de gelo raspado com xaropes por ‘1 penny’.

Esse era o espírito que ostentava a velha Nova York já desde essa época; um espaço que recebia e acolhia, não só imigrantes, mas também suas tradições e culinária. De gregos e alemães aos judeus com a culinária Kosher. Assim que se deu também o desenvolvimento de um vasto e rico mercado étnico, restaurantes e hotéis de repertório tão diversificado, que a cidade podia, enfim, ‘dar de comer’ a boa parte do país.

Era uma época em que não se fazia necessário a posse de certificados ou grandes habilidades lingüísticas para se exercer um cargo operacional; assim, que muitos estrangeiros foram atraídos para as fábricas de alimentos e também para o nascente mercado de restaurantes chineses. E se para esses estrangeiros, os bairros étnicos funcionavam como porto seguro - onde se agregavam, constituíam família e ouviam noticias de casa -, para o país, a expansão no setor de alimentos logo iria reverberar noutros setores da economia, como a dinâmica de preços e das importações.



Manhattan

Longe do velho estereótipo que a destacou pelos estabelecimentos mais badalados, freqüentados pela alta sociedade, Manhattan também possuía restaurantes especializados em ‘catering’; que tanto preparavam grandes comemorações quanto cuidavam dos trabalhadores que erguiam os colossos de concreto por toda sua extensão. Restaurantes gregos italianos - como o Polly-o ricotta cheese; chineses, cujo estereótipo de comida exótica ou venenosa logo deu lugar a uma explosão de sabores. Baklavas, massas frescas e uma série de outras produções feitas em casa.





Mercado na porção oeste de Manhattan
 



Considerada a maior padaria do país, a Companhia de Biscoitos de Nova York, localizada na 10ª Avenida com a 14ª Rua, logo entrou em fusão com a Companhia Americana de Biscoitos. Assim que surgiu a Companhia de Biscoitos Nacionais, ou NABISCO. Em 1900, ela possuía cerca de 2500 padarias em NY e 300 membros.

As casas de Abatedouro também se tornaram competitivas justamente pela culinária Kosher, que demandava carnes consumidas em no máximo 3 dias após o abatimento. Vale lembrar, a construção Tunel Holland em 1920, fez com que muitos desses negócios fossem deslocados para a Avenida Atlântica, no Brooklin.






'Pushcart' - vendedor de batatas quentes na porção leste de Manhattan




Bronx

Em 1900, os imigrantes irlandeses eram grandes fazendeiros, cultivando vegetais e jardins em grandes estados como Riverdale. Os fazendeiros alemães se concentraram ao redor de Belmont e Castle Hill Point.

Os italianos cultivavam frutas e vetegais atrás e na frente de suas casas. Porcos e frangos eram criados em parques e áreas públicas.

Assim como o Brooklyn, esta região experimentava os mesmos efeitos que acometiam os moradores da cidade e a indústria em Manhattan. Partes do Bronx foram anexadas a Manhattan e as construções de apartamentos começaram a florescer ao redor das linhas de transporte.



Queens

Pelos idos de 1900, embora fosse uma região bastante diversificada - com industrialização pesada a oeste e comunidades agricultoras a leste -, o Queens já era o centro da horticultura de Nova York.

Com o desenvolvimento do sistema de trem, as comunidades e fazendas familiares tornaram-se ainda mais importantes, fornecendo flores e árvores frutíferas, mas também abrigando o Mercado Jamaicano. A população chinesa, que, na época, passava dos 10.000 habitantes, também cultivava para seus próprios restaurantes.



Brooklyn

Na virada do século passado, esta região se caracterizou por receber o maior número de comunidades étnicas, que buscavam se desviar da superpovoada Manhattan. No entanto, com o desenvolvimento das áreas mais rurais, os fazendeiros acabaram ficando lado a lado com as construções residenciais.

Um importante pólo imigracional foi em direção ao Sul do Brooklyn, Maspeth e Greenspoint para a produção de açúcar, cerâmicas e as refinarias de óleo. Os poloneses cozinhavam e preservavam muitas de suas produções caseiras. Dentre vários empreendimentos, tinham árvores frutíferas e casas de cigarro.

Ocasionalmente, também tinham em seus quintais porcos cujas partes eram inteiramente aproveitadas: a gordura, os filés e o sangue, usado para a kiska, uma salsicha de miúdos e sangue embrulhada em intestino.

Em Bedford-Stuyvesant e no Greenpoint, as crianças comiam nabos, milho e batatas roubadas das terras mais abundantes. Elas também construíam fogueiras para assar vegetais, cerejas, peras e maçãs. Eram premiadas com leite morno quando conduziam cães perdidos, vacas e ovelhas em fazendas sem cercas.



Staten Island

As comunidades de imigrantes, particularmente os gregos, cuidavam de fazendas próximas ao Bull’s Head e proviam os mercados de Manhattan com vegetais e criações para o Mercado de Washington.



O ato de jantar fora

Em 1900, a variedade de comes e bebes em Nova York era enorme, alimentos quentes e frios em restaurantes e mais de 25.000 banquinhas pela rua. Nelas havia não só ostras, milho ou batatas assadas, mas também os primeiros hot dogs. No Brooklyns, os ‘Penny Restaurants’ serviam uma refeição por apenas 5 cents. Resorts em Coney Island ao longo da baia e na parte oeste. Em 1898 o Child’s restaurante – que fazia catering aos trabalhadores do centro da cidade – criou a primeira cafeteria em seu restaurante da Broadway. O sucesso em muito se deveu à auto promoção e à sua higiene.





Menu do restaurante Child




Fine Dining

Nova Iorque praticamente definiu o conceito de alta sociedade, como vemos nos filmes. Ela sempre entreteve ricos e poderosos, com jantares de múltiplas refeições e cigarros para os homens. Em benefício ou prejuízo, os restaurantes e hotéis tiveram de as adaptar às novas modas da cozinha e da vida noturna. As casas de lagostas eram mais democráticas e baratas, direcionadas à classe média.




                               


Menu do hotel Waldorf
 



Pode ser que seja estranho ao primeiro olhar, uma Nova York onde comidas e pessoas se cruzam o tempo todo; sem que ninguém se dê conta da incrível variedade de paladares, a cidade realmente exerce seu apelo como uma espécie de imã para todo e qualquer indivíduo. Nesse sentido, parece-me que não importa tanto atentar para suas variâncias em cultura, nacionalismo ou preferências individuais, uma vez que se está imerso num espaço tão pluralizado. Mais do que uma metrópole do suór e pelo glamour, Nova York não foi edificada com outro intuito senão atuar como um imã, refazendo-se Nova e novamente.







Menu do hotel Plaza
 
 
 
 

Fonte: museu da comida de Nova York (http://www.nyfoodmuseum.org/)

                                    



Creative Commons License
Comer em Nova York 100 anos atrás, como era isso? by Marcel Pitelli is licensed under a Creative Commons Atribuição-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.

1 comentários:

Nádia Lamas

Adorei o post! há pouco comprei um livro (lançamento da Amazon) que traz receitas publicadas pelo New York Times nos últimos 150 anos, mostrando a evolução dos hábitos alimentares. Tudo a ver com seu post, né?

Postar um comentário

Deixe seu comentário e sugestões!

Related Posts with Thumbnails

Canal Cozinha   © 2008. Template Recipes by Emporium Digital

TOP